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A DEVOÇÃO DE JONATHAN EDWARDS
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Era o cair da tarde em Northampton. Enquanto alguns
homens já desfrutavam do descanso de seu lar, outros
ainda retornavam do campo anelando pelo descanso da
noite. Enquanto isso, muitos acenavam para um casal
bastante conhecido e amado na cidade. Eles passeavam em
seus cavalos e conversavam. Sua amizade era como um
alento. Ao retornarem ao lar, e aos onze filhos, Jonathan e
Sarah Edwards tinham juntos seus momentos devocionais
antes de dormirem. E, assim, terminava mais um dia.
Dentro do pouco que conhecemos sobre a piedade de
Edwards, encontra-se sua relação com Sarah, sua esposa.
Segundo o Dr.Alderi Souza de Matos (CPAJ-Universidade
Mackenzie), Edwards e Sarah possuíam grande harmonia,
amor e companheirismo. Até o final de sua vida, eles
mantiveram o hábito de andar a cavalo, ao cair da tarde,
para poderem conversar. Antes de dormirem, sempre tinham
juntos seus momentos devocionais.
Jonathan Edwards viu a Bíblia, acima de tudo, como um livro de instruções, cujo objetivo é guiar os cristãos
no caminho da obediência à vontade de Deus.
Influência Puritana
Edwards era um típico congregacional da Nova Inglaterra, conformando-se às formulações puritanas de
devoção pública e particular. Em seu livro, Jonathan Edwards on Worship: Public and Private Devotion to
God (Jonathan Edwards sobre adoração: devoção pública e particular a Deus), Ted Rivera afirma que,
embora os hábitos devocionais particulares de Edwards sejam quase totalmente desconhecidos, o pouco
que sabemos é que Edwards herdou dos antigos puritanos sua ansiedade pela segurança da salvação,
seu zelo em acabar com o pecado, e sua preocupação cuidadosa por um autoexame.
Como os demais puritanos, Edwards estava muito preocupado em crescer firmemente em fé e boas obras.
Asantif icação pessoal, que começa com a devoção particular diária, resulta em boas obras que devem ser
ilimitadas. Para os puritanos, uma verdadeira confiança em Cristo nunca é infundida sem outras graças
com ela, graças estas que sempre resultam no bem do próximo.
Autoexame
Em 1738, Jonathan Edwards pregou uma série de sermões intitulada Charity and Its Fruits (Caridade e seus
frutos) onde tratou das práticas espirituais, do amor divino e dos hábitos dos crentes.
Edwards, nestes sermões, demonstrou que gostaria que sua congregação observasse muitas destas
práticas espirituais particulares: exame da consciência, constante avaliação espiritual, orações familiares
matutinas e vespertinas, leitura particular das Escrituras, encontros com outros cristãos, e uma
abrangente observância do Sabbath.
William C. Spohn, em artigo publicado no Journal of Religious Ethics (Revista de Ética Religiosa), destaca
que "de seus escassos escritos autobiográficos, parece que sua rotina diária era organizada em torno
destes exercícios devocionais".
Estes sermões foram pregados após um avivamento na igreja local (Northampton), por volta de 1736-37, e
pouco antes do Grande Despertamento, ocorrido entre 1740-43. Estes sermões esboçam algumas
práticas específicas que foram vividas antes e durante o Grande Despertamento.
Edwards sempre praticou e recomendou a prática do autoexame. Segundo ele, o autoexame é uma forma
de manter a piedade diária que, por sua vez, tem como objetivo neutralizar as tendências persistentes ao
pecado. O autoexame serve também para trazer energia para a vida moral, que é o símbolo mais seguro de
uma conversão religiosa.
Como a maioria dos puritanos, Edwards praticava regularmente o autoexame. Seus diários, do período em
que ele era bem jovem, nos mostram alguém buscando examinar cuidadosamente suas motivações,
disposições e ações. Edwards recomendava seus paroquianos a, regularmente, praticarem o autoexame,
não apenas uma vez ou duas, mas diária e continuamente, até que, por assim fazer, suas mentes iriam,
degrau por degrau, crescer. Assim, conquistariam um hábito de consideração saudável de sua alma, além
de uma vida e ação prudentes.
A Devoção: Uma Busca Pela Santidade
John Gerstner, em seu livro Jonathan Edwards: a mini-theology (Jonathan Edwards: uma mini-teologia),
dedica o capítulo nove para tratar da busca pessoal de Edwards pela santidade. De seus sermões escritos,
em mais de 1.200 o tema central é a santificação. Além dos sermões, seus escritos também estão
carregados deste tema.
Em seu livro Religious Affections (Afeições Religiosas), ao tratar sobrejustificação, opondo-se ao
antinomianismo e ao neonomianismo, Edwards insiste por uma pura doutrina da santificação como um
corolário da justificação.
Em A Faithful Narrative ofthe Surprising WorkofGod (Uma narrativa fiel da surpreendente obra de Deus),
bem como em Thoughts on f?ewVa/(Pensamentos sobre Reavivamento), Edwards perseguiu
determinadamente o mesmo tema. Em Humble Attempt (Esforço Humilde), Edwards faz um chamado à
oração, essencial para a santificação.
Ao tratar da necessidade de santificação, Gerstner destaca que, nos sermões de Edwards, é contrário à
razão um Deus santo abraçar criaturas imundas. É igualmente estranho imaginar um Deus que ama
criaturas imundas, pois, tal amor, perverteria tanto Ele com o céu. Há uma razão inerente na natureza do
pecado que torna necessário que o pecador seja infeliz e incapaz de ser feliz. Para Edwards, para que um
cristão seja feliz, ele deve obedecer tanto às práticas espirituais diárias, quanto àquelas relacionadas ao
2 o mandamento. Para ele, alguém não pode ser salvo sem obedecer ao 2 o mandamento (amar ao próximo).
Para Edwards, quando colocamos a santificação em prática, evidenciamos ao diabo o triunfo glorioso do
Senhor sobre ele. Edwards não compreende um cristão que não se satisfaz com a santidade. O cristão
não está satisfeito com nada menos do que ser perfeitamente santo. O cristão verdadeiro e sincero dá
mais glória a Deus do que um mundo todo de homens maus.
Em um de seus sermões, Edwards diz que uma pessoa dando um copo d'água em nome de Cristo significa
muito mais para Deus do que um não convertido entregando seu corpo para ser queimado. Cristianismo
consiste em prática. O homem natural não pode mortificar suas próprias concupiscências. Afé posta em
ação é capaz de mortificar as concupiscências do coração humano; e é uma evidência de seu poder.
Embora os cristãos possuam um princípio novo e poderoso que sobrepõe suas concupiscências, estas
ainda permanecem presentes e, por isso, a devoção diária nunca deve ser negligenciada. Para Edwards, há
no coração piedoso uma luta comparável àquela que aconteceu no ventre de Rebeca entre Jacó e Esaú.
Guerra é outra analogia que Edwards usa para descrever a luta no coração da pessoa convertida.
Edwards e as Manifestações Extraordinárias
Segundo Spohn, Edwards não se prendeu às manifestações extraordinárias da graça em seus sermões no
período do Grande Despertamento - muito menos após este período. À semelhança de João da Cruz,
outro teólogo que experimentou momentos intensos de enlevo espiritual, Edwards sempre suspeitou de
fenómenos místicos.
Para Edwards, as manifestações extraordinárias não davam nenhuma prova de conversão ou santidade. A
autenticidade da experiência religiosa não era determinada por sua intensidade ou natureza incomum, mas
pela qualidade de vida que emergia dela. Novos hábitos da vida cristã, manifestariam gradualmente que a
pessoa era, de fato, "espiritual", ou seja, que ela tinha parte na santidade de Deus através do Espírito
Santo que vive nela.
Um Exemplo Final
Fredrick Youngs, escrevendo para o Journal ofthe National Association of Baptist Professors of
Religions (Revista da Associação Nacional de Professores Batistas de Religião), disse que, uma vez que a
ênfase de Edwards sobre religião experiencial surgiu de sua própria experiência, passagens
autobiográficas serão as fontes primárias para quem deseja prosseguir na tarefa de entender a devoção e
piedade de Jonathan Edwards. Em sua Personal A/arraf/Ve(Narrativa Pessoal), Edwards traz dois
parágrafos consecutivos descrevendo eventos de logo após sua conversão.
Pouco tempo depois que comecei a experimentar estas coisas, falei com meu pai sobre alguns pensamentos
que passaram em minha mente. Fiquei muito afetado pela conversa que tivemos. E, quando a conversa
terminou, caminhei sozinho para fora, num lugar solitário nos campos de pastagens de meu pai, para meditar.
E, enquanto eu estava andando lá, e olhei para o céu e nuvens, veio à minha mente uma sensação doce da
gloriosa majestade e graça de Deus, que não sei como expressar. Pareceu-me vê-las em uma terna
conjunção: majestade e mansidão se juntaram: era uma majestade santa, doce e gentil, e também uma
majestosa mansidão; uma ternura impressionante, uma ternura elevada, grande, e santa.
Após isso, meu senso das coisas divinas gradualmente aumentaram, e se tornou mais e mais vivo, e eu
sentia mais daquela ternura interior. A aparência de tudo mudou: parecia haver em quase tudo, por assim
dizer, um molde ou aparência calma e terna da glória divina. A excelência de Deus, sua sabedoria, sua pureza
e amor, pareciam aparecer em tudo; no sol, na lua e nas estrelas; nas nuvens e no céu azul; na grama, nas
flores, nas árvores; na água e em toda a natureza; as quais ele usou grandemente para consertar minha
mente... E, enquanto eu observava... como sempre parecia natural para mim, eu cantava todas as minhas
meditações, falando os meus pensamentos em solilóquios, e falando-os com um canto.
Edwards, desde muito cedo, provou a Deus. Desfrutou de sua comunhão e compartilhou isso com sua
família em primeiro lugar. A exemplo dele, concluo refletindo sobre como seria saudável se voltássemos a
praticar tais "antigos" hábitos devocionais. Como precisamos anelar mais a Deus do que qualquer bem que
dele venha a nós! Ele é o mais precioso bem que podemos encontrar. Ele se oferece a nós e nos convida a
irmos a ele, diariamente! Creio que, sem essa sede e fome pelo Senhor, jamais experimentaremos um
gracioso despertamento do Senhor, como Jonathan e Sarah Edwards experimentaram. E, tenha certeza,
um despertamento espiritual, sempre começará em sua casa!
Wilson Porte Júnior:
é ministro da Convenção Batista Brasileira, membro da Comunhão Reformada Batista do Brasil, pastor da
Igreja Batista Liberdade, em Araraquara-SP, apresentador do programa de TV "conexão", professor de
Exposição Bíblica, Grego e Hebraico no Seminário Martin Bucer, e de Teologia Sistemática, História
Eclesiástica, Grego e Hebraico na Sociedade de Estudos Bíblicos Interdisciplinares (SEBI). Coordenador da
SEBI-Araraquara. Bacharel em Teologia pelo Seminário Bíblico Palavra da Vida e mestre em Teologia pelo
Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper (Universidade Presbiteriana Mackenzie).
Ted Rivera. Jonathan Edwards on worship: public and private devotion to God. Eugene: Pickwick, 2010.
Alderi Souza de Matos. Jonathan Edwards: teólogo do coração e do intelecto. Fides Reformata, v. 3, n. 1 .,
1998.
William C. Spohn. Spirituality and its Discontents: Jonathan Edwards's Charity and Its Fruits. Journal of
Religious Ethics. v. 31 , n. 2, 2003.
John Gerstner. Jonathan Edwards: a mini-theology. Morgan: Soli Deo Gloria, 1987.
Sermões de Jonathan Edwards.
Jonathan Edwards. Original Sin. Cornwall: Diggory Press, 2007.
Jonathan Edwards. Religious Affections. Grand Rapids: Sovereign Grace, 1971.
Fredrick Youngs. Jonathan Edwards, A Mystic? Journal of NABPR.
Jonathan Edwards. Letters and Personal Writings. New Haven: Yale University Press, 1998.